quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Carlos do Carmo Composição: Ary dos Santos e Fernando Tordo


Estrela da Tarde

Carlos do Carmo

Composição: Ary dos Santos e Fernando Tordo

Era a tarde mais longa de todas as tardes
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhamos tardamos no beijo
Que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite,
Para haver outro dia. (Refrão)
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a noite mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos noturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.

Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

(Refrão)

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ary dos Santos.

José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 — 18 de Janeiro de 1984.

Filho de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos, conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, vê publicados aos 14 anos, através de familiares, alguns dos seus poemas, considerados maus pelo autor. No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett. É então que Ary dos Santos abandona a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para seu sustento económico, que passariam desde a venda de máquinas para pastilhas até à publicidade. Contudo, paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se-ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas A Liturgia do Sangue (1963). Em 1969 inicia-se na actividade política ao filiar-se no PCP, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "canto livre perseguido". Entretanto, concorre, sob pseudónimo como exigia o regulamento, ao Festival RTP da Canção com os poemas Desfolhada Portuguesa (1969), Menina do Alto da Serra (1971) e Tourada (1973), obtendo os primeiros prémios. É aliás através deste campo – o da música - que o poeta se torna conhecido entre o grande público.

Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos fez no meio muitos amigos. Gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes e ainda um duplo álbum contendo O Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira.
À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado As Palavras das Cantigas, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos (publicado postumamente), e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia fosse uma autobiografia romanceada. O poeta morre a 18 de Janeiro de 1984.

O seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na casa da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida.
Ainda em 1984, foi lançada a obra VIII Sonetos de Ary dos Santos, com um estudo sobre o autor de Manuel Gusmão e planeamento gráfico de Rogério Ribeiro, no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro. Em 1988, Fernando Tordo editou o disco "O Menino Ary dos Santos" com os poemas escritos por Ary dos Santos na sua infância.









terça-feira, 4 de novembro de 2008

D.Francisco Gomes Avelar - 2 parte.

O Bispo D. Francisco Gomes de Avelar mandou o arquitecto Italiano Francisco Xavier Fabri construir um portal monumental, colocando como figura principal uma imagem em mármore de S.Tomás de Aquino.
Foi inaugurado em 1812 tendo como significado a sacralização da Vila-Adentro e a dignificação da antiga Praça da Rainha.
É um dos mais representativos exemplares do neo-classicismo no Algarve


De uma austeridade que só encontrava rival na bondade que punha em todos os seus actos, D. Francisco Gomes aumentou, com enérgicas medidas, os rendimentos da mitra criou, além de algumas aulas públicas, pode dizer-se que o próprio Seminário da Diocese do Algarve, fazendo construir quase todo o edifício que ainda hoje lhe pertence, de que foi espoliada em 1910, mas a que voltou em 1940.
Após a expulsão dos franceses do Algarve em 1808, o grande Bispo, que nesse movimento teve, com o seu conselho, a sua energia e o seu prestigio, um papel de grande realce, foi feito

presidente da Junta provisional então instituída e, tempo depois, vice-presidente do conselho de regência que então se estabeleceu e encarregado do governo das Armas da Província. Também nestas funções marcou notável posição, difundindo e proclamações, fazendo abrir estradas, construir e reparar fortalezas, numa palavra correspondendo com elevado critério a todas as necessidades do seu inesperado cargo, não com espírito de vingança ou de perseguição ao inimigo, que lho não consentia sua piedade, mas com um firme propósito de intransigente defesa do que constituía o seu rebanho.

Pio VII em 1816, a pedido do Governo, que assim lhe quis premiar os serviços prestados à Nação, concedeu-lhe o título pessoal de Arcebispo.
A morte de D. Francisco Gomes, ocorrida em Faro pouco depois causou enorme consternação e revestida de circunstâncias que impressionaram vivamente o espírito popular. Para ela o Prelado convictamente se preparou durante as horas que a antecederam e, tido por muitos como santo, seja lhos atribuíram em vida, continuaram a atribuir-lhe depois de morto autênticos milagres, Anos depois da sua exumação no carneiro existente na capela-mor da Sé, para nele se depositarem os restos do Bispo D.Carlos Cristóvão Genuez Pereira, falecido em 1863, o povo entrou nele de roldão e apoderou-se de tudo quanto restava do Prelado, disputando apaixonadamente o que passou a ter como verdadeiras relíquias e fazendo, afinal, com que tudo praticamente se perdesse.
A memoria de D.Francisco gomes, cujo o nome foi, muito merecidamente, dado à praça principal e à rua mais importante de Faro e cujo o centenário da morte foi condignamente comemorada na mesma em 1916, manteve-se sempre extremamente venerada em todo o Algarve, onde a ideia de lhe ser levantado um monumento por mais de uma vez foi sugerida, sem resultado de maior. Vingou finalmente devido aos esforços, pública e oficialmente reconhecidos, do A. Destes subsídios que tendo lançado a ideia da comissão municipal de iniciativa e Turismo de Faro, conseguiu que esta entidade, auxiliada desde logo pela CMF e depois de por todas as outras câmaras do distrito, fizesse construir no Largo da Sé o Ambicionado monumento, que ficou desde logo a ser um dos melhores do Algarve.

O projecto, com a figura do Prelado em corpo inteiro, foi da autoria do escultor Raul Xavier e a inauguração efectivou-se em 14-VI-1940.

Pesquisa efectuada por Pedro Carrega:

FRANCO, Mario Lyster, 1982, Algarviana Vol I A-B, Edição da Câmara Municipal de Faro, Impressão Tipografia União Faro (1982).