quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O miserável capitalismo português.

Um dos muitos motivos de um Portugal Falido.

Camilo Lourenço: Certo dia António Guterres convidou-me para almoçar em São Bento. Às tantas perguntei-lhe se não o preocupava a presença do Estado na economia. O então 1º ministro vacilou e respondeu: "Sim, preocupa-me". E contou-me uma história: "Há dias tive aqui um grupo de empresários que queriam criar uma associação. Disse-lhes que achava muito bem. Mas no final da conversa um deles saiu-se com esta: "Precisamos que o Governo pague as instalações…".

Lembrei-me deste episódio quando se soube que o Estado vai pagar os 35 milhões de euros que custou a construção do Europarque, em Santa Maria da Feira. Tudo isto porque a AEP, alegadamente, não tem condições para os pagar. Como o Estado português aceitou ser "fiador", os bancos que financiaram o projecto vão accionar as garantias.

É esta a face mais vergonhosa do nosso capitalismo: não sabe viver sem o Estado. Agora, quando Guterres era 1º ministro, no Gonçalvismo, quando Salazar cá andou, quando D. João II se lançou na gesta ultramarina, quando… Bem, é melhor ficarmos por aqui senão acabamos em D. Afonso Henriques…

O problema é que nada disto é novo: nas privatizações o Estado fez preços especiais aos empresários portugueses que depois venderam as empresas a estrangeiros, apropriando-se de enormes mais-valias; parte dos accionistas dos nossos bancos só o são porque compraram acções com dinheiro emprestado; quando se fala em criar condições para crescer, a primeira coisa que se ouve é "apoios do Estado", "linhas de crédito bonificadas", etc. Com exemplos destes o leitor surpreende-se com o estado do país? E está a ver qual é o maior problema estrutural da economia portuguesa?

Camilo Lourenço em http://www.jornaldenegocios.pt/