segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Brites de Almeida: Uma farense para a história...


Na História de Portugal estão vários nomes femininos que, de uma forma ou de outra, deram um importante contributo na formação do nosso país. De entre os mais marcantes e inspiradores, Brites de Almeida é, certamente, um deles.

O nome, à primeira vista, pode não parecer muito familiar, mas Brites de Almeida é nada mais, nada menos, que a conhecidíssima Padeira de Aljubarrota!

Dividem-se as opiniões no que toca à existência desta personagem- uns acreditam ser apenas um mito inspirado no sentimento de resistência e combate ás invasões castelhanas, outros defendem que a Padeira de Aljubarrota era uma figura femenina que existiu na realidade e que se destacou para sempre na História Nacional pela sua bravura- mas independentemente destas, sabe-se que existiu realmente em Aljubarrota, na época da batalha com o mesmo nome, uma padeira chamada Brites de Almeida. Inclusive, as ruínas da sua casa encontram-se em Alcobaça numa praça com o seu nome e onde também está erguida uma estátua em sua homenagem.

E perguntarão certamente: porquê falar na Padeira de Aljubarrota, num blogue sobre a cidade de Faro? O que tem a Padeira de Aljubarrota a ver com Faro?

Pode parecer estranho à partida, mas acreditem que não se trata de um absurdo, ou de uma qualquer descoordenação de temas. Não. É que Brites de Almeida, dada como a famosa "Padeira de Aljubarrota" que marcou a História, é farense de nascença. É um facto ainda pouco, ou talvez nada divulgado, e por isso, desconhecido para a maioria das gentes da nossa terra, e para o resto dos portugueses em geral.

E para não se ferirem susceptibilidades sobre este assunto, convém ficarem a conhecer a história desta personagem:
Brites de Almeida nasceu em meados do século XVI, em Faro, tinha a nossa cidade na altura, a designação de Santa Maria de Faaron. Era originária de uma família muito humilde, e é geralmente descrita como sendo, já em pequena, uma criança alta, forte e musculada meio "Maria-rapaz" que gostava de se envolver em brigas. Quando tinha 20 anos, os pais morreram e ela usou o pouco dinheiro que eles lhe deixaram para aprender a manejar a espada, algo que só os homens nobres faziam naquele tempo. Então para ganhar dinheiro, Brites entrou em feiras para lutar com homens. Certo dia, um soldado desafiou Brites: se o soldado ganhasse, Brites casaria com ele, se ele perdesse, Brites mata-lo ia. E Brites acabou por vencê-lo...

Mas naquela época, matar um soldado era crime e para fugir à justiça, Brites roubou um bote com o intuito de fugir para Castela, mas um grupo de piratas raptou-a e vendeu-a como escrava. Como era uma verdadeira "mulher coragem", passado um ano Brites consegue fugir para Portugal com mais dois outros escravos portugueses. Algumas versões referem ainda que a embarcação onde Brites se deslocava foi apanhada por uma tempestade e foi parar à praia da Ericeira. Como ainda era procurada pela justiça, Brites cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve. Mesmo assim, ainda teve alguns sarilhos, então Brites, já vestida de mulher, apanhou um barco para Valada acabando por ir parar a Aljubarrota.

Já cansada e sem forma de ganhar dinheiro, começou a pedir esmola à porta de um forno. A padeira, que era já idosa, ao olhar para Brites reparou na sua forte constituição e viu que era a pessoa ideal para a ajudar e para continuar o negócio.

Mais tarde, em 1385 deu-se a conhecida batalha. Como a maioria dos portugueses, Brites estava ao lado de D. João, Mestre de Avis e não queria os espanhóis a governar Portugal. Depois de Nuno Álvares Pereira vencer os espanhóis na batalha, Brites liderou o grupo de populares que perseguiu os espanhóis em fuga. Quando regressa a casa, no dia 14 de Agosto do mesmo ano, a padeira encontrou escondidos no forno do pão, sete castelhanos. Á medida que eles iam saíndo do forno, a padeira matava-os à pazada. Existem várias versões, uma refere que Brites cozeu os castelhanos vivos dentro do forno, outras aumentam o número de castelhanos.

A história conta ainda que, quando Brites fez quarenta anos se casou com um lavrador rico que admirava e que chegou a ter filhos.
São várias versões desta lenda, mas é natural que ao longo do tempo, se tenham alterado e acrescentado outros pormenores à história. Porém, sejam alguns factos verídicos ou não, Brites de Almeida é realmente um exemplo da coragem e da bravura lusitana. Mais uma farense que engrandeceu a História do nosso país.

E embora os maiores feitos e proezas de Brites de Almeida, não se tenham destacado necessariamente em Faro e no Algarve, deveriam ser maiores as referências sobre esta figura histórica ser farense. Os farenses e os algarvios têm o direito de saber, que na batalha de Aljubarrota, esteve também na luta uma conterrânea sua, que também pela valentia com que fez frente aos castelhanos, se tornou para sempre, num dos grandes mitos da História de Portugal.

Um dos seus grandes mitos femininos. Mais uma grande mulher farense...