Era a tarde mais longa de todas as tardes Que me acontecia Eu esperava por ti, tu não vinhas Tardavas e eu entardecia Era tarde, tão tarde, que a boca, Tardando-lhe o beijo, mordia Quando à boca da noite surgiste Na tarde tal rosa tardia Quando nós nos olhamos tardamos no beijo Que a boca pedia E na tarde ficamos unidos ardendo na luz Que morria Em nós dois nessa tarde em que tanto Tardaste o sol amanhecia Era tarde demais para haver outra noite, Para haver outro dia. (Refrão) Meu amor, meu amor Minha estrela da tarde Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde. Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza Se tu és a alegria ou se és a tristeza. Meu amor, meu amor Eu não tenho a certeza.
Foi a noite mais bela de todas as noites Que me aconteceram Dos noturnos silêncios que à noite De aromas e beijos se encheram Foi a noite em que os nossos dois Corpos cansados não adormeceram E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite Nos aconteceram Era o dia da noite de todas as noites Que nos precederam Era a noite mais clara daqueles Que à noite amando se deram E entre os braços da noite de tanto Se amarem, vivendo morreram.
(Refrão)
Eu não sei, meu amor, se o que digo É ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo E acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste Dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida De mágoa e de espanto. Meu amor, nunca é tarde nem cedo Para quem se quer tanto!
José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 — 18 de Janeiro de 1984.
Filho de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos, conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, vê publicados aos 14 anos, através de familiares, alguns dos seus poemas, considerados maus pelo autor. No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett.É então que Ary dos Santos abandona a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para seu sustento económico, que passariam desde a venda de máquinas para pastilhas até à publicidade. Contudo, paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se-ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas A Liturgia do Sangue (1963).Em 1969 inicia-se na actividade política ao filiar-se no PCP, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "canto livre perseguido".Entretanto, concorre, sob pseudónimo como exigia o regulamento, ao Festival RTP da Canção com os poemas Desfolhada Portuguesa (1969), Menina do Alto da Serra (1971) e Tourada (1973), obtendo os primeiros prémios. É aliás através deste campo – o da música - que o poeta se torna conhecido entre o grande público.
Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos fez no meio muitos amigos. Gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes e ainda um duplo álbum contendo O Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira.À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado As Palavras das Cantigas, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos (publicado postumamente), e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia fosse uma autobiografia romanceada.O poeta morre a 18 de Janeiro de 1984.
O seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na casa da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida.Ainda em 1984, foi lançada a obra VIII Sonetos de Ary dos Santos, com um estudo sobre o autor de Manuel Gusmão e planeamento gráfico de Rogério Ribeiro, no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro.Em 1988, Fernando Tordo editou o disco "O Menino Ary dos Santos" com os poemas escritos por Ary dos Santos na sua infância.
O Bispo D. Francisco Gomes de Avelar mandou o arquitecto Italiano Francisco Xavier Fabri construir um portal monumental, colocando como figura principal uma imagem em mármore de S.Tomás de Aquino. Foi inaugurado em 1812 tendo como significado a sacralização da Vila-Adentro e a dignificação da antiga Praça da Rainha. É um dos mais representativos exemplares do neo-classicismo no Algarve
De uma austeridade que só encontrava rival na bondade que punha em todos os seus actos, D. Francisco Gomes aumentou, com enérgicas medidas, os rendimentos da mitra criou, além de algumas aulas públicas, pode dizer-se que o próprio Seminário da Diocese do Algarve, fazendo construir quase todo o edifício que ainda hoje lhe pertence, de que foi espoliada em 1910, mas a que voltou em 1940.
Após a expulsão dos franceses do Algarve em 1808, o grande Bispo, que nesse movimento teve, com o seu conselho, a sua energia e o seu prestigio, um papel de grande realce, foi feito
presidente da Junta provisional então instituída e, tempo depois, vice-presidente do conselho de regência que então se estabeleceu e encarregado do governo das Armas da Província. Também nestas funções marcou notável posição, difundindo e proclamações, fazendo abrir estradas, construir e reparar fortalezas, numa palavra correspondendo com elevado critério a todas as necessidades do seu inesperado cargo, não com espírito de vingança ou de perseguição ao inimigo, que lho não consentia sua piedade, mas com um firme propósito de intransigente defesa do que constituía o seu rebanho.
Pio VII em 1816, a pedido do Governo, que assim lhe quis premiar os serviços prestados à Nação, concedeu-lhe o título pessoal de Arcebispo.
A morte de D. Francisco Gomes, ocorrida em Faro pouco depois causou enorme consternação e revestida de circunstâncias que impressionaram vivamente o espírito popular. Para ela o Prelado convictamente se preparou durante as horas que a antecederam e, tido por muitos como santo, seja lhos atribuíram em vida, continuaram a atribuir-lhe depois de morto autênticos milagres, Anos depois da sua exumação no carneiro existente na capela-mor da Sé, para nele se depositarem os restos do Bispo D.Carlos Cristóvão Genuez Pereira, falecido em 1863, o povo entrou nele de roldão e apoderou-se de tudo quanto restava do Prelado, disputando apaixonadamente o que passou a ter como verdadeiras relíquias e fazendo, afinal, com que tudo praticamente se perdesse.
A memoria de D.Francisco gomes, cujo o nome foi, muito merecidamente, dado à praça principal e à rua mais importante de Faro e cujo o centenário da morte foi condignamente comemorada na mesma em 1916, manteve-se sempre extremamente venerada em todo o Algarve, onde a ideia de lhe ser levantado um monumento por mais de uma vez foi sugerida, sem resultado de maior. Vingou finalmente devido aos esforços, pública e oficialmente reconhecidos, do A. Destes subsídios que tendo lançado a ideia da comissão municipal de iniciativa e Turismo de Faro, conseguiu que esta entidade, auxiliada desde logo pela CMF e depois de por todas as outras câmaras do distrito, fizesse construir no Largo da Sé o Ambicionado monumento, que ficou desde logo a ser um dos melhores do Algarve.
O projecto, com a figura do Prelado em corpo inteiro, foi da autoria do escultor Raul Xavier e a inauguração efectivou-se em 14-VI-1940.
Pesquisa efectuada por Pedro Carrega:
FRANCO, Mario Lyster, 1982, Algarviana Vol I A-B, Edição da Câmara Municipal de Faro, Impressão Tipografia União Faro (1982).