segunda-feira, 9 de abril de 2007

Júlio Verne



Jean Jules Gabriel Verne Allote (Júlio Verne)
Nasceu em Nantes a 8 de Fevereiro de 1828.
Passou a infância neste porto do Atlântico, onde acostavam navios carregados com especiarias estonteantes e de onde zarpavam naus para terras desconhecidas. Nantes foi também o porto onde confluíam os negreiros do tráfico de escravos do século XIX.Mas, para Júlio Verne, foi nesta cidade costeira que a sua imaginação se libertou das amarras: "Sonhava subir aos mastros dos navios, viajava agarrado a eles", escreveu em Souvenirs d"infance et de jeunesse (Memórias da infância e da juventude).Aos 12 anos trocou de lugar com um adolescente para ir como grumete a bordo do Coralie, um cargueiro à vela que ia para as Bermudas e que estava atracado no porto de Poimbeuf. Foi descoberto e mandado para casa.Filho de Sophie Allote de la Fuÿe, esta de um família burguesa de Nantes, e Pierre Verne, um advogado proeminente, acompanhou o pai na sua mudança para Paris, em 1848, em busca de uma melhor clientela.Aí estudou, dividindo o seu tempo entre o curso de Direito e tertúlias literárias, às quais fora apresentado pelo seu tio. Conheceu personalidades importantes da literatura francesa sua contemporânea, como Victor Hugo e Alexandre Dumas Filho, e não tardou ele próprio a escrever sob a sua orientação acabando por se tornar secretário do Thêatre Lyrique.Estreou a sua primeira peça de teatro "Les Pailles Rompues" em Paris, aos vinte e dois anos de idade e, um ano depois, em 1851, o seu primeiro conto de ficção científica, "Un Voyage En Ballon". Ainda incapaz de viver exclusivamente da escrita, Verne fez-se valer do seu diploma em Direito, encontrando o seu sustento como operador financeiro. Em 1857, casou-se com uma jovem viúva de 26 anos, Honorine de Viane Morel, que já tinha duas filhas e com a qual teve o seu único filho, Michel Jean Pierre Verne. Arranjou então um emprego na Bolsa de Paris, para fazer viver o lar, mas continuou a escrever nas horas vagas.

Conheceu o fotógrafo Félix Nadar, apaixonado pelo “balonismo”, como toda a gente em Paris. Nadar era conhecido pelas suas aventuras com balões até que resolveu fazer um passeio com a mulher e mais nove passageiros num enorme balão durante 16 horas. Um acidente ao poisar fê-lo partir as duas pernas. Mas esse facto não fez diminuir em Verne o desejo de escrever sobre máquinas, invenções e viagens pelo mundo. Pelo contrário, a partir daí ele passou a estudar muito mais as revistas científicas e os livros que falavam dessas invenções.
Cinco anos depois, deu-se o ponto de viragem na sua vida e na sua obra, quando Nadar apresentou o editor e também autor de livros infanto-juvenis Pierre-Jules Hetzel que demonstrou interesse em publicar a sua série "Voyages Extraordinaires". O episódio "Cinq Semaines En Ballon" (1863) garantiu a Júlio Verne a popularidade necessária ao seu estabelecimento como escritor a tempo inteiro. Essa história continha detalhes tão minuciosos de coordenadas geográficas, culturas, animais, etc., que os leitores se perguntavam se era ficção ou um relato verídico. Na verdade, Júlio Verne nunca havia estado em um balão ou viajado à África. Toda a informação sobre a história veio de sua imaginação e capacidade de pesquisa. Assinou um contrato no qual precisava de escrever dois livros por ano, nos próximos vinte anos e depois prorrogado por toda a produção futura. Verne cumpriu o contrato durante 40 anos.Procedendo a uma investigação metódica e rigorosa, Verne começou a escrever romances, geralmente de ficção científica, bastante convincentes e realistas. Em "Le Voyage Au Centre De La Terre" (1864, Viagem ao Centro da Terra), descrevia uma expedição científica ao núcleo terrestre, antecipando um sonho de muitos investigadores. O mesmo aconteceu com "De La Terre À La Lune" (1865, Da Terra à Lua), romance que encontraria uma continuação em "Autour De La Lune" (1870, À Volta da Lua) e em que Verne prefigurava em mais de cem anos a primeira expedição lunar. Nesse ano, 1865, tornou-se membro da Sociedade de Paris ficando amigo de cientistas famosos. Teve a consciência de que contribuía com as suas obras para a divulgação dos conhecimentos da época.
O carácter visionário da obra de Júlio Verne pode também ser notado em obras como "L'Île Mystérieuse" (1874, A Ilha Misteriosa) e "Vingt Mille Lieus Sous Les Mers" (1869-70, Vinte Mil Léguas Submarinas), romance em que o carismático Capitão Nemo profetizava a pirataria submarina alemã da Segunda Guerra Mundial.
Em 1867 visitou os Estados Unidos da América, viajando depois pelo Mediterrâneo. Em 1871, Verne foi assediado a tal ponto que, instalou-se em Amiens para ter sossego e poder escrever, optando pela escrita de títulos como "A Ilha Misteriosa" e "Esfinge dos Gelos" em que foca os temas do ambiente, da protecção das espécies e a sobrevivência de culturas nativas. Tinha o costume de escrever dois, às vezes até três livros ao mesmo tempo. Escrevia sempre na página da direita, deixava a esquerda para corrigir o texto e raramente mudava a versão original, o que prova que ele era um redactor fluente.
Desde 1871, membro da Academia de Ciência, de Letras e Artes da cidade, presidiu a instituição em 1875.
Mais tarde, em 9 de Março de 1886, sobrevive a uma tentativa de assassinato pela mão do seu sobrinho Gaston, filho do irmão Paul, devido a um sentimento de inveja e ciúme. Com a bala alojada entre o pé e o tornozelo, viveu coxo com a ajuda de uma bengala nos seus últimos 19 anos de vida. Caiu em depressão na mudança do século, ao perder os seres e as coisas que mais amava: o seu irmão, o seu amigo e editor Hetzel e os seus passeios de barco (pois não se equilibrava mais no convés).
Depois de ter dado ao mundo uma centena de romances e novelas, em 24 de Março de 1905, aos 77 anos, Júlio Verne pediu o livro “Vinte mil léguas submarinas”, chamou a mulher e os filhos, fechou os olhos e faleceu na sua casa em Amiens.As suas histórias foram mais tarde adaptadas por Walt Disney como “Viagem à Lua”, de Georges Méliès, ou “Vinte Mil Léguas Submarinas”, com James Mason e Kirk Douglas.

Na primeira parte da sua obra literária, Verne era um profundo defensor da ciência e do progresso técnico na Europa. Mas nas obras mais tardias é um autor pessimista quanto ao futuro da civilização, adivinhando-se já uma certa atmosfera de “finde- siècle”. A maior parte dos seus romances foram escritos em 1880. A partir de então, explorou o teatro, a poesia e o conto. Ao todo foram 65 romances, 20 “short-stories” e ensaios, 30 peças e trabalhos geográficos e também libretos de ópera.
Não foi um grande viajante nem um grande cientista. Tudo aquilo que escreveu, Verne foi buscar aos livros e publicações que lia vorazmente (assinava inúmeros jornais e revistas, coleccionava enciclopédias e obras científicas), e às suas viagens (realizou o sonho de ter o seu próprio barco), anotando e desenhando tudo o que via.
"Nunca poderá existir outro Júlio Verne, pois nasceu num momento irrepetível da história. Cresceu nos anos em que a máquina a vapor estava a mudar o mundo material, e as descobertas científicas o mundo da mente. Foi o primeiro escritor a receber essas mudanças de braços abertos e proclamou que a investigação científica podia ser a mais maravilhosa aventura. E por isso nunca passará de moda...",

Arthur C. Clarke

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